Vivemos uma
época estranha. Eu sempre gostei de política, mas nunca participei ativamente
de forma partidária. Nunca fiz (e não pretendo fazer) parte de um partido
político. Mas nem por isso, deixo de ter minhas opiniões e posições políticas.
Mas nos
últimos tempos, com todas essas discussões políticas via redes sociais,
senti-me provocada. Não a entrar em um partido, mas em conversar mais a
respeito. E para conversar, é preciso estudar, ler no mínimo, um pouco. Abrir a
mente, não somente opinar de acordo com nossas convicções, mas discutir
logicamente.
Sempre me
caracterizei de centro, e antes de mais nada, uma nunca radical. Ser radical é
fechar-se ao novo, ao meu ver. É totalmente bitolar-se. Com todo respeito a
quem o seja. Mas é difícil conversar com um radical, especialmente se você não
pensa exatamente como ele. É uma discussão interminável, sem fim, algo que dá
vontade de você rasgar-se inteiro ou sair correndo desesperadamente, Tipo, você
fica louco. Louca. E sou muito da boa para ser radical.
E a vitória do
Trump aumentou essa natural necessidade de entender-se, do tipo “Qual é a
minha, pessoa?”
E afinal, o
que é de fato o Trump? Se eu sou democrata (o que equivale a esquerda deles),
sou de esquerda aqui?
Pois a questão
é mais ampla que parece. Antes de mais nada, ser de esquerda lá, não é
necessariamente ser de esquerda aqui. Meu caso. Sou democrata lá, mas não de
esquerda aqui.
Então encontrei um texto de JR Guzzo, que escreve para a Veja (quem
é de esquerda radical, condena a Veja. Não faça isso em casa, criatura). Ele
diz que Trump e Lula têm mais em comum que se possa imaginar. Direita e
esquerda, como assim? Pois é isso que digo: TUDO A VER (Veja, 16/11/2016).
Nossa direita não é a direita deles. E vice versa.
Vou transcrever
o texto dele aqui:
Nada é tão parecido com o novo presidente americano
quanto Lula e a esquerda brasileira
Por J.R. Guzzo
Por J.R. Guzzo
Ninguém sabe se haverá mesmo, dentro de alguns anos, um muro de concreto fechando de ponta a ponta a fronteira terrestre entre os Estados Unidos e o México. Também não se sabe se pessoas da religião muçulmana serão no futuro próximo proibidas de entrar em território americano. É igualmente desconhecido se os cidadãos estrangeiros, de modo geral, passarão a ser considerados indesejáveis nos Estados Unidos, se o consumo de produtos importados será visto como uma atitude hostil aos interesses nacionais ou se a imprensa americana será tratada como uma inimiga do governo e do bem-estar comum. Mas é exatamente isso, entre outras ideias com o mesmo princípio ativo, que a maioria dos cidadãos americanos deseja que aconteça em seu país. Eis aí o problema: Donald Trump, que fez toda a sua campanha eleitoral propondo tais coisas, foi eleito para a Presidência dos Estados Unidos, mas quem realmente está querendo que a vida seja assim são os 60 milhões de cidadãos que votaram nele e o colocaram na Casa Branca. Mais do que Donald Trump, na verdade, venceu uma visão de como deve ser a política no mundo de hoje – e essa visão é doente.
Trata-se, antes de mais nada, da visão do “nós contra eles”. Esse “nós” é o povo bom, honesto e trabalhador – e defendido pelo grande líder popular. “Eles” são todos os que pensam de um modo diferente, ou propõem outras soluções para os problemas. São chamados de “elite”. Nunca se dão nomes ou identidades à “elite”. Trata-se do inimigo, apenas isso. São “eles” os culpados por tudo o que existe de errado no país; são eles que não deixam consertar os erros. Só pode ter razão quem concorda e apóia o grande líder saído do povo; e só ele, por força dos seus dons exclusivos, é capaz de ter soluções para os problemas. Essas soluções são sempre as mais fáceis, não requerem nenhum tipo de trabalho ou esforço e, mais do que tudo, têm a grande atração de desobrigar as pessoas de pensar; basta acreditar que o líder tem a capacidade de resolver tudo. E, se alguém achar que suas soluções podem estar erradas – bom, esse alguém é da “elite”, justamente, está do lado “deles”, e como tal não tem o direito de participar da vida pública.
A visão política que venceu junto com Trump também acredita no “Estado forte”, e na sua intervenção bruta para resolver tudo o que é difícil. Esqueçam a gritaria de campanha contra o tamanho “do governo de Washington”, ou a intromissão do “Estado” na vida do cidadão. Na vida real, as propostas feitas pelo vencedor estão sempre chamando a autoridade pública para resolver as coisas. Há problemas com a travessia ilegal da fronteira mexicana? O governo tem de construir uma muralha na fronteira. Há problemas com o terrorismo originado em países muçulmanos? O governo tem de proibir a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos. Americanos estão perdendo empregos por causa da importação de produtos estrangeiros? O governo tem de bloquear as importações – e por aí se vai. Outro artigo de fé na ideologia de Trump é a hostilidade à imigração e aos imigrantes – vistos como uma ameaça ao emprego dos cidadãos americanos e aos valores maiores da sociedade. É gente que aceita trabalhar por um salário mais baixo; não se pode admitir que venham disputar empregos com o cidadão nacional.
O fechamento do mercado de trabalho é, na verdade, apenas um dos elementos de todo um pensamento protecionista, que não gosta do livre-comércio, da concorrência nem da liberdade econômica em geral. Trump prega a revisão de tratados e de práticas comerciais que abrem o mercado americano para produtos estrangeiros. Quer cortar importações. Quer proteger as empresas americanas criando dificuldades para as empresas de fora competirem com elas. Quer criar, manter ou desenvolver o “fornecedor nacional”. Na cabeça de Trump e de seu eleitorado, o mundo exterior não é visto como um possível fornecedor de novas tecnologias nem de produtos melhores, mais eficazes ou mais baratos – é visto como uma ameaça. O estrangeiro, segundo essa maneira de encarar o mundo, está sempre se organizando para prejudicar os interesses americanos. Trump não gosta da independência do Banco Central, que considera manipulado pelos grandes interesses financeiros. Não gosta de cultura – é coisa da “elite”. Não gosta de liberdade.
Donald Trump é apontado hoje como o maior perigo que a “direita” coloca para o mundo. Muito interessante, porque nada é tão parecido com o novo presidente americano quanto Lula e a esquerda brasileira. Trump e Lula – tudo a ver. (JR GUZZO)
E saliento
mais, extraído do site listado em seguida: Nos
Estados Unidos, ser liberal equivale a ser de esquerda. A direita seria
conservadora. O Partido Democrata é liberal. O Republicano, conservador, apesar
da ala libertária. É diferente do Brasil, onde liberal é associado à direta e
tem uma conotação distinta, similar à européia, de Estado Mínimo (http://rodrigoconstantino.com/artigos/a-direita-brasileira-e-a-esquerda-americana-o-caso-do-comercio-externo/).
Veja ainda:
No Assistencialismo
Estatal, o governo provê Bens e Serviços da seguinte forma:
Socialismo:
Energia - Vestuário - Moradia – Alimentação e todo resto abaixo
Social-Democrata:
Saúde Universal e todo resto abaixo
Democrata/Moderado:
Seguro Desemprego - Aposentadoria pública - Saúde Pública Limitada
(para pobres e idosos) - Assistência à Moradia, Alimentação e Energia para
Pobres – Educação Pública e todo resto abaixo
Republicano/Conservador:
Proteção contra Calamidade - Rodovias/Estradas e todo resto abaixo
Estado
mínimo: Polícia/Segurança/Exército/Tribunal/Adjudicação/Arbitragem
Libertarismo:
Mercado provê todos os bens e serviços baseados na produção privada e troca
voluntária
Sugestão de leitura:
Imagens ilustrativas:
A vitória do atraso (Veja 2504) |
JR Guzzo |
Diagrama de Nolan 1 |
Diagrama de Nolan 2 |
Modelo de Oposição (americano) |
Partidos e Posições Políticas |
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