A Ficção
Científica é tão ampla, é tão linda, é tão poderosa, que é difícil de esgotar-se
esse assunto. E existe assunto que se esgota? Possivelmente, não.
Eu amo Ficção
Científica. Mesmo que nem sempre tenha conhecimento suficiente para entendê-la,
ela me faz pensar. E nisso, podemos citar livros, filmes e tudo que envolve o
assunto. Pessoas a se conversar sobre o assunto. Pessoas técnicas e pessoas que
“viajam na maionese”. As primeiras nos ensinam, dão base. As segundas nos fazem
pensar “fora da caixa”. O que precisamos é separar umas das outras, e impor
limites.
E a ficção
científica, ao contrário do que alguns desavisados possam achar, é muito séria.
Aborda assuntos da sociedade, às vezes nas entrelinhas e às vezes de forma
muito clara.
E então... existe
o equilíbrio em uma sociedade? Equilíbrio representa a igualdade? Pois esse
filme sempre me faz pensar, e o assisti novamente: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-26865/
Sinopse:
Nos primeiros anos do século
XXI aconteceu a 3ª Guerra Mundial.
Aqueles que sobreviveram sabiam que a humanidade jamais poderia sobreviver a
uma 4ª Guerra Mundial
e que a natureza volátil dos humanos não podia mais ser exposta. Então uma
ramificação da lei foi criada, o Clero Grammaton, cuja única tarefa é procurar
e erradicar a real fonte de crueldade entre os humanos: a capacidade de sentir,
pois há a crença de que as emoções foram culpadas pelos fracassos das
sociedades do passado.
E
A história se passa em um futuro
distópico,
após uma terceira, e destruidora, guerra mundial. A sociedade
é controlada por um regime totalitário, que obriga a população a tomar uma droga
chamada Prozium que anestesia emoções, prevenindo tensões sociais. John
Preston, o protagonista,
é um membro da instituição que mantém a ordem e para de tomar o remédio.
A perfeição é uma utopia, uma distopia,
ou o que?
A
etimologia da palavra utopia consiste em uma tradução dos
termos gregos "lugar nenhum" e "bom lugar". Significa a
criação de um mundo ideal, fantástico, tão perfeito que não necessariamente
existe ou existirá na realidade - ao contrário da sua antítese, a sociedade
absolutamente desarmônica, a distopia.
E se pensarmos
em filmes, encontrei na internet uma divisão dos tipos de utopia e distopia com
relação aos filmes de ficção científica. Gostei e compartilho algumas passagens
aqui:
Star Trek
Tipo
de utopia: ideal
A coleção de séries de TV e dos
filmes de Jornada
nas Estrelas (Star Trek) apresenta o futuro de
perfeição suprema, em que a humanidade uniu-se em busca de demandas mais
nobres, como a diligência pelo conhecimento e pela paz. A Frota Estelar
é uma armada pacífica, habitada por uma tripulação filantrópica e etnicamente
diversa, e as tramas tratam com otimismo de assuntos de valor, como racismo,
religião e direitos humanos (e de alienígenas). Além disso, a sociedade
dispensou coisas mundanas como o dinheiro, e pode apostar no trabalho como um
meio para realmente enaltecer o homem.
Claro, há batalhas, raças e
pessoas que ameaçam esse modo de viver. Porém, a espaçonave Enterprise sempre
termina dadivosa, depois de aprender alguma lição valiosa. Vale notar que há
vários tipos de utopias presentes nos filmes - econômica, financeira,
tecnológica - e também há a utopia ecológica, na qual a sociedade aprenderia
novos modos de se relacionar com seu ambiente ou com a natureza, em uma
tradução da imagem do bom selvagem (frequente em diversas obras, mais
recentemente em Avatar).
O Homem Bicentenário / Eu, Robô
Tipo
de utopia: purificada
O pensamento utópico de Isaac Asimov,
autor do conto do Homem
Bicentenário (que ganhou adaptação
cinematográfica em 1999, dirigida por Chris Colombus)
e das Leis da Robótica e partes da história do filme Eu, Robô (de
2004, dirigido por Alex
Proyas), se dá de maneira histórica.
Isto é, o autor está mais interessado em desenhar o trajeto que leva a uma
sociedade a ser utópica do que necessariamente descrever detalhadamente como
seria este mundo perfeito. Sendo assim, ambos os filmes - embora adaptem um
pouco o original asimoviano - não tentam apresentar um paraíso, mas uma
comunidade avançada em que tudo parece se encaixar.
O interessante é que a visão
mais antropológica deixa espaço para melhorias, e é aqui que os contos tomam
forma: é possível encontrar a discussão do que é ser humano, e de como
aperfeiçoar a condição humana. O robô que pode ser humano, este é o cerne das
obras. Ademais, os conflitos principais não acontecem entre humanos, mas entre
humanos e robôs, o que distancia a noção de problemas dentro da raça humana.
Isto é, depois de encontrar novas formas de vida, a humanidade pode deixar de
se focar em suas questões e abraçar uma visão mais larga da realidade. Uma
visão comum da ficção científica utópica, que prima por purificação.
Mary Shelley's Frankenstein
Tipo
de utopia: feminina
Talvez seja novidade para
alguns leitores, mas entre as ficções sobre utopias, a feminina é uma das mais
proeminentes. Muitos escritores tentam dissertar sobre como ficaria a questão
dos gêneros sexuais no futuro, e as tipologias são diversas: há mundos em que
só sobraram mulheres, outros em que a função de reprodução não é somente
feminina, universos de verdadeira equabilidade entre homens e mulheres; todos
eles retratam algum tipo de mudança de uma sociedade paternalista para algo
completamente diferente, mais equacionado.
Um dos primeiros escritos
encaixados nesse estrato é Frankenstein:
ou o Moderno Prometeu, de Mary Shelley.
A autora foi influenciada, entre outras inspirações, por sua mãe, que era
pesquisadora dos direitos femininos. No livro, e na sua adaptação para o cinema
estrelada e dirigida por Kenneth
Branagh - Mary Shelley's Frankenstein,
de 1994 - o enfoque é a criação de vida de maneira assexuada, por meio de
tecnologia. Claro, no filme, o final não é necessariamente feliz para o homem
que arrisca a maternidade, mas esta foi uma das primeiras vezes em que o
conceito foi aplicado à ficção científica. Vale lembrar que a utopia feminina é
a que menos se utiliza de um ponto de vista generalista, o "bom
lugar" a partir de uma visão de gênero.
Minority Report
Tipo de utopia:
questionável
Por vezes, toda a sociedade
está absolutamente serena em um distante futuro utópico, mas o protagonista da
história não se encaixa, ou descobre alguma falha no sistema. Diferentemente de
futuros distópicos, em que a utopia é uma exclusividade de poucos
privilegiados, nesta versão o idealismo funciona para todos, mas por vezes se
prova contrário à própria natureza humana.
Assim como a ironia de haver um
lugar "bom" que é ao mesmo tempo um lugar "nenhum", esse
tipo de filme quer questionar exatamente o cruzamento entre possível e
impossível. Minority
Report - A Nova Lei, filme de 2002 inspirado no conto homônimo
de Philip
K. Dick, demonstra esse tipo de
utopia. Agente da divisão de pré-crimes, repartição policial que confronta os
assassinos antes mesmo de cometerem o crime, apostando em um tipo de oráculo,
John Anderton (Tom
Cruise) parte em uma demanda pessoal,
quando descobre que ele mesmo mataria uma pessoa em menos de trinta e seis
horas. Se o sistema é preciso, porque então diz que "nosso herói" na
verdade pode ser um criminoso? O tema aqui é determinismo versus
livre-arbítrio.
A mesma questão é tratada em
diversos filmes, como Gattaca,
de 1997, em que o personagem principal, Vincent Freeman (Ethan Hawke),
tenta realizar seu sonho, trapaceando o sistema aparentemente ideal que escolhe
papéis sociais com base na eugenia.
1984
Tipo
de distopia: totalitarista
1984,
em suas duas principais versões cinematográficas, de 1956 e 1984, e no romance
homônimo de George
Orwell, sintetiza o totalitarismo e a
sociedade de controle. O cidadão abdica de suas liberdades pessoais em troca de
uma política de segurança nacional e da promessa de um mundo sem crimes. O
Estado passa a padronizar as classes sociais e o estilo de vida, tudo em prol
de uma comunidade supostamente homogênea.
Imagine que uma câmera grava
todos os seus movimentos, a cada instante, todos os dias. Dentro desse ambiente
controlado, onde o Grande Irmão representa o panóptico perfeito, as regras se
impregnam na rotina das pessoas de tal forma que, em dado momento, o controle
total prescinde da câmera para continuar funcionando. Em 1984, ademais, a
repressão do Estado não se dá somente por meio de coação e censura, mas por uma
mudança de enfoque: propaganda manipulativa.
Uma subdivisão da distopia
totalitarista é a do Estado burocrático, em que os cidadãos, presos numa
situação kafkiana, não conseguem driblar as regras do sistema simplesmente por
elas existirem em excesso. Os filmes, nesse caso, tendem ao absurdo e à sátira,
como Idiocracy.
Blade Runner - O Caçador de Androides
Tipo de distopia:
tecnológica
Outro subgênero abundante no
cinema de ficção científica. Blade
Runner, o filme de Ridley Scott de
1982 que adapta o romance Do
Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick,
é um dos principais exemplares do mundo "high
tech, low life", isto é, quanto maior o conhecimento
científico, pior a qualidade de vida da população. No caso das distopias, a
aceleração da tecnologia pode causar um colapso iminente, seja pelo seu mau
uso, pela falta de organização na superurbanização ou pela sociedade que apela
para o crime como forma de sobrevivência.
Aqui não há um véu de utopia. O
universo de Blade
Runner apresenta um mundo totalmente caótico, que passa por
problemas de superpopulação e poluição. Robôs orgânicos conhecidos como
replicantes são criados para trabalhar em colônias fora da Terra, com um curto
tempo de vida, e aqueles que tentam viver em meio aos humanos no planeta devem
ser exterminados. Mas, nessa realidade esgarçada, o conceito de
"humanidade" se perde - daí o conflito principal de Blade Runner, com
seus replicantes revoltosos em busca de aceitação.
Já filmes como Matrix demonstram a mesma problemática
das máquinas, mas em um mundo onde os humanos já foram totalmente subjugados.
Outros exemplos de distopias tecnológicas incluem O Exterminador do Futuro
e AI – Inteligência Artificial.
O
Livro de Eli
Tipo de distopia:
pós-apocalíptica
O Livro de Eli,
de 2010, é colocado como representante deste gênero por trazer uma versão
clássica do apocalipse, com seus desdobramentos religiosos: o mundo passa por
uma guerra nuclear que transforma o planeta em uma terra árida de ninguém, e o
refúgio possível, contra vilões que exploram a desesperança dos demais, talvez
seja apenas o espiritual.
O protagonista segue seus
próprios valores morais enquanto parte em uma missão que pode alterar a
situação e, no caso, trazer um pouco de esperança. Eli perambula por mais de 30
anos até encontrar uma cidadezinha cujo dono afirma conhecer um livro que
poderá dar-lhe o poder de dominar as pessoas. O poder é uma das questões
fundamentais de sociedades distópicas porque, mesmo que as histórias tenham
focos diferentes, uma sociedade imperfeita é gerida por um governante
imperfeito.
A escassez de gasolina, a
poluição e a predileção por futuros desérticos e sem vida são a norma em filmes
como Mad Max,
Os 12 Macacos
e Wall-E, mas a natureza vez
ou outra se impõe no vácuo deixado pela humanidade, em filmes como Planeta dos Macacos
e Eu Sou a Lenda, Embora a
leitura religiosa não esteja sempre presente, não é difícil ver em dilúvios ou
em mártires uma chance de interpretar essa variedade de filmes pelo viés
bíblico.
Laranja Mecânica
Tipo
de distopia: criminosa
O filme britânico Laranja Mecânica,
de 1971, têm duas coisas em comum: ambos são baseados em romances homônimos, e
trazem a violência como respostas a uma sociedade distópica. Em Laranja Mecânica, o
crime organizado comanda as ruas, rivalizando com o papel do Estado, que está a
ponto de perder a guerra. O crime, aqui, funciona em resposta ao totalitarismo,
mas acaba criando, inevitavelmente, outro tipo de pressão.
Tem com Jogos Vorazes,
obviamente, um parentesco próximo, mas outros filmes de distopias em que a
violência é institucionalizada.
Admirável Mundo Novo
Tipo
de distopia: prazerosa
Você será totalmente controlado
por um governo ou uma instituição, mas não se preocupe: você vai gostar. Em Admirável Mundo Novo
(filme criado para TV em 1980, inspirado pelo romance de Aldous Huxley),
a sociedade poderia ser uma utopia, tudo funciona de maneira perfeita, as
pessoas vivem de forma harmônica, sempre serenas ou felizes. A vida sexual é
encorajada, já que serve apenas como fonte de prazer - a reprodução é sempre in vitro e
controlada. Porém...
Para manter-se feliz, o cidadão
deve usar Soma, uma droga projetada para desativar sentimentos impróprios.
Aqueles que não querem viver em sociedade, podem optar por morar nas suas
margens. Na trama do filme, a sociedade passa a ser questionada por alguns
poucos, quando um dos Selvagens é reinserido na cidade. O livro ainda ganhou
outra adaptação para a TV, em 1998.
Outros bons exemplos desta
distopia são Equilibrium
(de 2002, em que o uso de drogas mantém a sociedade serena, já que
ter emoções é considerado um crime).
Vampiros de Almas
Tipo
de distopia: alienígena
E se a distopia estivesse lá
fora? Aqui, uma raça alienígena é que passa a controlar a sociedade. Porém, o
funcionamento dessa nova comunidade é bem parecido com a distopia
totalitarista: os cidadãos se tornam homogêneos, não há violência, mas também
não há individualidade ou sexualidade.
Vampiros
de Almas - Os Invasores de Corpos - A Invasão Continua
(1993) e em
1956, numa época da Guerra Fria em que o cinema B de Hollywood trabalhava com o
medo comunista constantemente como metáfora em suas ficções científicas. Como
os alienígenas parasitas dominam humanos mas não os deformam, tudo na aparência
permanece normal, e a paranóia se estabelece mais uma vez como norma da
distopia. Claro, o mundo se torna um local absolutamente utópico, mas para os
invasores.
Robo Cop - O Policial do Futuro
Tipo de distopia:
corporativa
O controle aqui é realizado não
pelo governo, mas por uma ou mais corporações, que podem tanto determinar o
estilo de vida dos cidadãos (frequentemente mascarado como oferta de bens de
consumo) como serem, elas mesmas, os agentes de destruição. No caso de RoboCop - O Policial do Futuro,
de Paul
Verhoeven, as comunidades vivem à mercê
da violência, até que a empresa OCP toma para si o papel da segurança pública e
cria um ciborgue que pode eliminar a criminalidade.
O que a corporação não
imaginava, porém, é que seu rato de laboratório, um policial chacinado que
sobrevive graças à tecnologia, pudesse lutar tanto para manter a sua
humanidade. Na obra, assim como em outras distopias deste tipo, as empresas que
conduzem o mundo são uma visão exacerbada do capitalismo selvagem. A
publicidade, inclusive, passa a ser a maior ferramenta de gestão do controle.
EU INDICO: The
Walking Dead, que foi esquecido nessa lista. Nossa sociedade está muito, muito
zumbi. Vivemos em uma zumbilância. É não? Seria o equilíbrio nós nos transformarmos ou
sermos todos zumbis? Às vezes, bem às vezes, dá vontadezinha de ser zumbi. Ou no mínimo,
deixar de ser. Afinal, somos ou devemos ficar?
“Riem
de mim porque sou diferente, rio deles porque eles são todos iguais.”
-Kurt Cobain-
E então:
utopia ou distopia? Harmonia ou desarmonia? Sei lá. Prefiro acreditar que tudo
possa melhorar, mas sempre tendo como base, a ação civilizada e com base em
discussões lógicas. Emoção sem devoção. Emoção com coração e cérebro.
PS: Todos os
filmes listados com imagens aqui foram por minzinha, assistidos. E abaixo,
mostro o primeiro filme do gênero que assisti. Um semi-terror com mescla de
ficção científica. Meio forçadinho, mas um clássico:
Nenhum comentário:
Postar um comentário