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quinta-feira, 25 de março de 2010

Intra-empreendedorismo X OU E Incomodação Zero?




Existem duas vertentes atuais nas empresas: intra-empreendedorismo e incomodação zero.

Vejam a definição de cada uma delas:

- Intra-empreendedorismo: é a versão em português da expressão intrapreneur, que significa empreendedor interno, ou seja empreendedorismo dentro dos limites de uma organização já estabelecida. O conceito de intra-empreendedorismo foi estabelecido há duas décadas, mas as empresas não estavam dispostas a dar aos empregados a liberdade para criar e, conseqüentemente, errar e oferecer-lhes um orçamento para financiar inovação, além do mais não queriam arcar com os custos dos erros que inevitavelmente acontecem no percurso. Hoje esse conceito já está muito difundido e valorizado nas organizações. O intra-empreendedorismo (intrapreneuring) é um sistema revolucionário para acelerar as inovações dentro de grandes empresas, através do uso melhor dos seus talentos empreendedores. É um sistema que oferece uma maneira saudável para se reagir aos desafios empresariais do novo milênio (Exli - Excelência em intra-empreendedorismo - consultores credenciados pela ONU – Organizações das Nações Unidas).

- Incomodação zero: O sociólogo polonês Zigmunt Bauman nos revela que o novo perfil do trabalhador procurado pelas empresas, não é mais exatamente aquele que prima por valores, com princípios e tradições sólidas. O mais novo filtro utilizado nesta escolha é de outra natureza. De acordo com Bauman, desde 1997, usa-se nos EUA uma expressão que designa o perfil de trabalhador que o mercado procura, o chamado “chateação zero”. A expressão cômica, mas extremamente reveladora, nos mostra que o trabalhador que possuir menos fatores potenciais para chatear ou incomodar a empresa durante o seu labor será aquele com maior chance de conseguir a vaga. Por exemplo, um sujeito dotado de família e filhos tem o seu nível de chateação elevado, pois provavelmente não terá tanta flexibilidade para aceitar tarefas em qualquer horário ou local. Ora, se você é um empregado que ousa questionar as relações e que procura cumprir as suas obrigações, cobrando dos demais o mínimo de responsabilidade, saiba que você possui um nível de chateação elevadíssimo. Vantajoso é ser alguém descomprometido com a realidade social, com laços afetivos frágeis e que possa estar sempre à disposição. A preferência é por “empregados ‘flutuantes’, acríticos, descomprometidos, flexíveis, ‘generalistas’ e, em última instância, descartáveis (do tipo ‘pau pra toda obra’, em vez de especializados e submetidos a um treinamento estritamente focalizado)”, afirma Bauman. O mercado de trabalhadores é também um mercado de produtos.

E prá mim, sinceramente, elas parecem antagônicas. Como uma empresa pode querer empreendedorismos internos, se não quer “incomodar-se”???? Não quer gente com vida fora do eixo profissional, por exemplo? Ou com opinião própria? Como ser criativo e inovador, sem visão de mundo, sem orientação para a crítica e análise? Não entendo isso muito bem.

Por isso, como diz a Lya Luft, “Trabalhar é sofrer”, da Revista Veja de 20 de Janeiro de 2010. Veja aqui, alguns trechos do texto dela: “O trabalho enobrece” é uma dessas frases feitas que a gente repete sem refletir no que significam, feito reza automatizada. Outra é “A quem Deus ama, ele faz sofrer”, que fala de uma divindade cruel, fria, que não mereceria uma vela acesa sequer. Sinto muito: nem sempre trabalhar nos torna mais nobres, nem sempre a dor nos deixa mais justos, mais generosos. O tempo para contemplação da arte e da natureza, ou curtição dos afetos, por exemplo, deve enobrecer bem mais. Ser feliz, viver com alguma harmonia, há de nos tornar melhores do que a desgraça. A ilusão de que o trabalho e o sofrimento nos aperfeiçoam é uma ideia que deve ser reavaliada e certamente desmascarada.

O trabalho tem de ser o primeiro dos nossos valores, nos ensinaram, colocando à nossa frente cartazes pintados que impedem que a gente enxergue além disso........Prefiro, ao mito do trabalho como única salvação, e da dor como cursinho de aperfeiçoamento pessoal, a realidade possível dos amores e dos valores que nos tornariam mais humanos. Para que se trabalhe com mais força e ímpeto e se viva com mais esperança.

O trabalho que dá valor ao ser humano e algum sentido à vida pode, por outro lado, deformar e destruir. O desprezo pela alegria e pelo lazer espalha-se entre muitos de nossos conceitos, e nos sentimos culpados se não estamos em atividade, na cultura do corre-corre e da competência pela competência, do poder pelo poder, por mais tolo que ele seja.

Assim como o sofrimento pode nos tornar amargos e até emocionalmente estéreis, o trabalho pode aviltar, humilhar, explorar e solapar qualquer dignidade, roubar nosso tempo, saúde e possibilidade de crescimento. Na verdade, o que enobrece é a responsabilidade que os deveres, incluindo os de trabalho, trazem consigo............


Se concordo com o título do texto da Lya? Sim... infelizmente. Num mundo louco que vivemos, concordo sim. Porque não se sabe ao certo, como agir para sofrer menos. Especialmente, no trabalho.

Tem um livro que li a algum tempo: “Um pavão em terra de pingüins”. É uma fábula corporativa, onde uma empresa, composta por diretores tradicionalmente pinguins (que simbolizam a mesmice, o fazer sempre do mesmo jeito) resolvem contratar um pavão, porque ele pensa e faz diferente.

Pois bem. Ele entra na empresa.

Os outros pinguins passam a rejeitá-lo. No inicio, ele supera isso. Até consegue fazer umas mudançinhas. Outras mudanças até, mais expressivas. Mas depois de um tempo, os pinguins diretores chamam ele e pedem: “Você poderia se adaptar a nossa cultura... não faça tantas mudanças, vá mais devagar.”

Até que o pavão agüenta um tempo. Mas chega um momento, um triste momento de encruzilhada, que ou ele vira um pinguim, ou ele sai da empresa.

E então, o que você faria?

Pois é, os motivos que nos colocam nas empresas, ás vezes são os mesmos que nos tiram delas.

E POR QUE, POR QUE SERÁ QUE OS MELHORES SEMPRE FICAM COM “AS BOMBAS”? Veja: http://imgs.sapo.pt/sapovideo/swf/flvplayer-sapo.swf?file=http://rd3.videos.sapo.pt/v5urAwzZwmpy4QRvV5rf/mov/1

E outra questão: você é intra-empreendedor ou quer ser um jogador do time dos incomodadores zero? Ou os dois (se é que dá prá ser os dois ao mesmo tempo...)?

E sobre o pavão em terra de pinguins, veja: UM PAVAO NA TERRA DOS PINGÜINS, relata de uma forma bem humorada e de fácil aceitação um tema cada vez mais importante na realidade das empresas nos dias de hoje: o espaço dado para os novos membros de uma equipe mostrar as suas idéias e se destacarem. Trata-se de uma reflexão sobre como e porque as pessoas criativas e com iniciativa, devem ser respeitadas e valorizadas dentro das empresas. Traz dicas de comportamento para pavões (ou qualquer das outras aves exóticas abordadas) e pingüins, discutindo como deveria ser o ambiente de trabalho ideal (a Terra da Oportunidade), e o que fazer se você ainda não encontrou o seu, ou transformou a sua empresa num deles.


E então: pavão ou pinguim?

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