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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

As "praia" e o surf




Amo o surf, já falei outras vezes. Mesmo não sendo surfista. Tem um pensamento do Teco Padaratz, surfista brasileiro de sucesso, que define porque gosto e admiro esse universo: "A mesma trajetória que você tem aprendendo a surfar, tem aprendendo a viver. O universo a nossa volta não é previsível, e no mar, é a mesma coisa: você não prevê o que vai acontecer, você tem que saber ler os sinais, saber se relacionar com as ondas e os seus companheiros, senão você morre. E a vida é igual."

E essa de que surfistas são todos aqueles meninos bronzeados (lindos!) que não querem saber de coisa séria, ou de trabalho, já era. Tem muito excelente profissional voltando a surfar ou aprendendo, de maduro. Não surfei na água, por fobia dela, trauminhas a parte. Mas... fiz sand board, prá compensar.

Sand board (da internet): É um desporto que consiste em descer dunas de areia, com a utilização de uma espécie de prancha similar à prancha de snowboard, usada na neve. Foi criado por volta do ano de 1986, em Florianópolis (Brasil). A idéia surgiu como uma alternativa para os surfistas nos dias em que o mar não estava bom para a prática do surf.

O surf é um estilo de vida, além de ser esporte. A grande maioria dos surfistas (homens ou mulheres) são naturebas, super saudáveis, curtem e cuidam da natureza, e são principalmente aqueles de alma aloha, do bem. Tudo de bom. E quem nunca participou de um lual, deveria sentir o clima... de paz e amizade, coisas de alma...

Mas em contrapartida, apesar de gostar desse meio, desse mundo, não gosto de praia no jeito tradicional de viver a praia.

O que é o “jeito tradicional de viver a praia”? Vamos lá, vou enumerar algumas coisas:

1) Sexta-feira, a partir das 15hs da tarde: trânsito agitado, muuuuuuuuuitos carros em direção a Free Way, caminho do mar. Congestionamento. Stress. Quero chegar logo. Ai, ai, ai. Preciso chegar. Stress no asfalto.
2) Chegando na casa de praia: alguns parentes já estão lá, a casa uma bagunça. Paz prá relaxar do trânsito? “O que ser paz? Mim não falar sua língua.”
3) Hello, operação troca de lâmpadas, chuveiro e outras coisinhas detonadas na casa: você vai dormir a uma hora da madruga, exausto...
4) ...e acorda cedinho, com os filhos que vão surfar quase de madruga. Sono abalado.
5) A rede de descanso: você achava que poderia usar? Como assim, se a tia da sua esposa está deitada nela o dia inteiro?
6) Ar condicionado é coisa de rico: ok, você só tem mal e porcamente um ventiladorzinho velho, daqueles barulhentos prá caramba... melhor passar suador, né?
7) Como você não foi a praia com a family, ficou responsável pelo churrascão, mas não trouxe carvão. Vamos ao super? Fila kilométrica, loucura total... 2 horas no super, você foi a pézito, e volta prá casa naquele solaço de rachar placenta...
8) Chegando em casa: a family voltou da praia, esfomeada. A meiguinha da sua filha mais nova, quer milho... e não tem em casa. Você volta pro super... surreal.
9) Prá não ser sádica: não vou contar os detalhes, mas em resumo, o almoço fica pronto ás 14hs37min... e sua esposa, muito cansadinha, pede prá você lavar a louça, que não é muita, porque o almoço foi churras... tá bem, né? Tudo por uma noite alucinante de amor, promessa do sábado a noite...
10) Ê, ê, ê Catatau, finalmente chega o sábado a noite: o prêmio! Prêmio? Que é isso! Passeio na avenida principal da sua praia, com camelôs vendendo desde rede de dormir, brincos até panelas... e a rua, cheinha de gente por todos os lados, você desviando das que vem em sentido contrário...
11) Depois de caminhar quase 10 kms de ida e volta na avenida, parece que você vai dormir... e na sua cama, junto de você e sua cheirosa esposinha, ELE, o moleque... quer dormir com o pai porque tá com saudade, o lindinho! Adeus, noite dos sonhos...
12) Domingão: todos acordam cedo prá ir prá areia, porque o sol da manhã é mais saudável. E na praia... a disputa na areia pelo metro quadrado, é grande. Quando você finalmente consegue isolar um espaço minúsculo ao lado de uma família espaçosa, o guarda-sol aberto a muito custo... você percebe que não trouxe cadeira e não sobra sombra prá você... e sua pele é das mais branquinhas!
13) Lá pelas 14hs37min (mesmo horário que começou o almoço de ontem), você e a family resolvem ir prá casa, lotando o carro de apetrechos diversos, gente e areia... e rumo a sua casinha de praia!
14) Chegando em casa, ninguém cozinha: Então, lá vai você na lanchonete da esquina, buscar o xis que todos pediram... 12 ao total. E lá na lanchonete, você espera 1h45min prá receber seu pedido.
15) O vermelhão começa a doer: você chega em casa, com todos os lanches. Já está com tanta dor do queimaço, que só o que gostaria, é deitar na cama... mas de que jeito? Todo doído e moído... ai, não encosta em mim!
16) Com analgésico, você consegue descansar um pouquinho... até ás 19hs. Acorda de um salto só, porque vai ter que pegar a Free Way, de volta prá casa... arruma as coisas, e se prepara prá pegar a estrada...
17) ...depois de 4hs30min de estrada, chega em casa ás 00hs30min, louco prá dormir...
18) ...deita na cama sem tomar banho e finalmente, pode relaxar... prá acordar ás 06hs30min e ir correndo para o escritório, que graças a Deus, hoje é segunda-feira!

Heloooooooooo! Você ainda acha que o melhor do verão é curtir “as praia”????? Como diz o Veríssimo (abaixo): “Qualquer semelhança com a vida real, é uma mera coincidência.”

E olha o que o Luis Fernando Veríssimo fala a respeito:


E viva o verão...

Mal posso esperar!!!!

Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.

Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.

Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no tênis. Mas o principal ponto do verão é…. a praia!

Ah, como é bela a praia.

Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam prá fazer coleção.

Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.

Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.

O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando.

Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa, toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias.

Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e prontos pra enterrar a avó na areia.

E as crianças? Ah, que gracinhas!

Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por uma conchinha do mar, os adolescentes ouvindo seus MP5s enquanto dormem.

As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do chinelo.

Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como perfurar o poço pra fincar o cabo do guarda-sol. É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar em pé.

Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da maravilha que é entrar no mar!Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja no fundo.

Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva. Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa.

A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha.

Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!!

Mas, claro, tudo tem seu lado bom.

E à noite o sol vai embora.

Todo mundo volta prá casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo.

O Shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa, desde creme de barbear até desinfetante de privada.

As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia oferece.

Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.

O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.

Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo, prá que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no mesmo inferno tropical…

Qualquer semelhança com a vida real, é uma mera coincidência.



Alguém ainda tem alguma dúvida das delícias do verão? De tudo isso, ainda prefiro o estilo surfista de ser. Surf na veia. De alma. E nada de programa de índio, feito o descrito em 18 itens ou no texto do Veríssimo... e detalhe: seja rico ou seja pobre, esses itens não variam muito... a questão é “ir prás praia”...

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EBAAAA! Bom te ver!


Penso, logo, existo. E... se você está aqui, quer saber como eu penso. Se quer saber como eu penso, no mínimo, é curioso.


Curiosos ALOHA fazem bem para o mundo. Então, é nós no mundo, porque não viemos aqui a passeio!


Busco uma visão de longo alcance, sem aceitar verdades absolutas, preservando valores ALOHA, que são o ideal para um mundo mais honesto e verdadeiro.